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O Culto de Moloch-Baal – Os Baali (Realizada em: 22/05/22)


Sempre nos fascinou identificar as referências e a inspiração onde os criadores do Mundo das Trevas beberam. Às vezes, a referência é claramente evidente, outras, mais difusa e complexa, compostas de pequenos pedaços de factos históricos, mitologias e religiões.

Com esta palestra, iniciamos um ciclo sobre esse tema, onde nos propomos identificar e apresentar algumas dessas correspondências, entre o mundo real e o Mundo das Trevas.


Começaremos pelos Baali, infernalistas e adoradores de demónios, e um deus do mundo real: Moloch-Baal.

Esta não é uma palestra sobre os Baali. Deixo isso para os estudiosos do clã. Esta é uma palestra dirigida aos curiosos, aos fãs do Mundo das Trevas e a todos aqueles que se interrogam sobre de onde a imaginação vem…


E da tua descendência não darás nenhum (filho) para fazer passar pelo fogo perante Moloque; e não profanarás o nome de teu Senhor. Eu sou o ETERNO.” (Levítico 18:21)


Alguns dos mais antigos deuses fascinaram as civilizações por mais tempo do que outros. Os seus cultos violentos, que apelavam aos mais profundos impulsos humanos e à parte mais negra da psique dos seus fiéis, marcaram ainda mais a memória dos homens.

Poucos deuses se podem gabar de tal longevidade. Baal, o antigo deus semítico, é um deles: o seu culto foi celebrado desde cerca de3000 a.c. até a época romana, sem interrupção.

Nem Baal nem Moloch são nomes próprios, mas títulos. Baal significa "o mestre", "o marido" ou “o senhor”, e Moloch “o rei”, e os seus nomes são encontrados em todo o Oriente Médio, em todas as áreas povoadas pelos povos semitas, até às colónias fenícias, a principal delas a imortal Cartago, a cidade cujo nome está para sempre ligado ao do deus.

Assim, Baal é apenas um nome genérico. É o segundo nome, o qualificativo, que revela qual aspecto de Baal é adorado: Baal Marcodes, deus das danças sagradas, Baal Shamen, o Sol, deus dos céus, e especialmente Baal-Hammon, “o oculto” rei dos deuses, deus dos dois chifres, deus do tempo, o terrível deus de Cartago.

O Baal dos céus, do raio, do vento e da chuva, da fertilidade e do sexo, do mar e da guerra, é invariavelmente acompanhado por uma divindade feminina cujos nomes mudam, Anate, Astarte ou Ishtar, e Tanit em Cartago. Deusas da guerra, do sexo, da fertilidade, do poder político, comedoras de carne e bebedoras de sangue, tal como ele.

Baal precisava de sangue para ser apaziguado. Os seus rituais de adoração incluíam a prostituição sagrada, danças, auto-mutilações, e sacrifícios de crianças, lançadas vivas numa cavidade da estátua do deus e consumidas pelo fogo.


Está no meio deles uma estátua de… [Baal Hamon]… com suas mãos estendidas sobre uma bacia de bronze, a chama das quais engole a criança. Quando as chamas caem sobre o corpo, os membros contraídos e a boca aberta parecem quase estar rindo até que o corpo contraído desliza silenciosamente para dentro do braseiro.” (Cleitarco, historiador grego do século 4 a.c.)


Pouco se sabe sobre o Baal original, mas tabuletas cobertas de escrita cuneiforme encontradas na década de 1920 por uma equipe de arqueólogos franceses em Ugarit, atual Ras Shamra, na Síria, permitiram traçar a ascensão do deus em linhas gerais.

Num Panteão dominado pela figura dominante do soberano deus El, ele aparece pela primeira vez como um intruso que deve merecer a sua posição. Através de lutas, traições e alianças ele ascende a um lugar de topo na mitologia semítica.

Com a era helenística, a cultura grega e os seus deuses muitas vezes cobrem os cultos de Baal com roupagens gregas, identificando Astarte com Afrodite e Baal com Zeus, em todo o mundo dominado pela cultura grega.

A helenização transforma esses antigos cultos agrários, animistas, em cultos com cerimoniais mais elaborados, incluindo graus de iniciação e conhecimento, cujos detalhes nunca saberemos e perdidos para sempre.

É Cartago que nos permite adivinhar com maior precisão os aspectos do culto de Baal.

A adoração local de Baal concentrava-se na adoração associada das duas divindades Baal-Hammon e Tanit, sua consorte, Dia e Noite, Sol e Lua. Para os gregos, o casal divino dos cartagineses não está mais associado a Zeus e Afrodite, mas a Saturno (ou Cronos, que comeu seus próprios filhos) e Hera, a selvajaria dos tempos originais, a loucura dos primeiros tempos.


Os sacrifícios que a cidade organizou para comprazer o deus são os mais conhecidos, pois marcaram a memória dos contemporâneos como um ferro em brasa. Em 310 a.c., derrotada e sitiada pelos gregos da Sicília, Cartago sofria de falta de água. Os sacerdotes, para serem perdoados pelas suas faltas por Baal, organizaram um holocausto.

Segundo Diodoro da Sicília (historiador grego do século 1 a.c.), 500 crianças da nobreza foram executadas da maneira mais atroz. Um enorme Baal estava entronizado na praça central da cidade. Era oco e dentro dele havia um enorme braseiro.

Os braços da estátua, articulados, carregavam as crianças encapuzadas de preto para a garganta escancarada, onde eram lançadas vivas, sob os olhos de uma multidão que Diodoro descreve como embriagada de alegria demente e loucura assassina.

Segundo ele, homens e mulheres enlouquecidos esfaqueavam-se mutuamente correndo para o braseiro. Baal deve ter ficado feliz: uma tempestade caiu sobre a cidade, afogando a loucura coletiva sob as chuvas e enchendo as cisternas.

O mais louco é que esse massacre demente foi feito para absolver um pecado da nobreza - todas as pequenas vítimas, eram nobres.

Qual o pecado? O de não terem perpetuado a antiga tradição que queria que os primeiros filhos de cada família nobre fossem imolados, para garantir a continuação da descendência.


No rescaldo da Primeira Guerra Púnica, em que Cartago e Roma, as duas potências do Mediterrâneo, se enfrentaram, os mercenários contratados por Cartago, cansados de esperar um salário cem vezes prometido e nunca pago, sitiaram Cartago, pondo em perigo a sobrevivência da cidade.

Em vez de finalmente pagarem as suas dívidas, o Conselho de Anciãos decidiu repetir o Moloch (o termo moloch na língua púnica, parece também significar um tipo de sacrifícios de crianças em grande escala, e pelo fogo).

Cada família de Cartago, e não apenas as nobres, teve que entregar uma criança para sacrifício. No dia seguinte, a multidão encheu a praça em frente ao templo de Moloch, no alto da cidade. O fogo, na estátua do deus de bronze, tinha sido mantido a maior parte da noite.

A multidão desfilou perante ao deus, enquanto jogavam no fogo pela enorme boca incandescente, as suas melhores jóias e riquezas.

A loucura parecia crescer à medida que avançavam. Os sacerdotes cortaram os seus rostos, e alguns membros do clero mais devotos, perfuravam o peito com pontas de ferro, dilacerando os seus corpos inteiros. Então o primeiro filho foi empurrado.

Depois, todas as crianças foram sacrificadas, de rosto e corpo mascarados para não verem, e para que nenhuma mãe ou irmã reconhecesse um filho ou filha, ou um irmão, e desmaiasse gritando de dor. Era preciso que nenhum cartaginês enfraquecesse. Os lamentos não agradavam a Baal.

Diz-se que houve tantas vítimas quanto o ano solar conta dias, mas o número foi seguramente superado. Durante horas, os mercenários que cercavam a cidade puderam ver, horrorizados, o colosso começar a brilhar lentamente, e quase cambalear, lutando para consumir todas as vítimas dessa loucura coletiva.

No final, os sacerdotes espalharam as cinzas ainda quentes sobre a multidão.

Nesse frenesi coletivo, os cartagineses, empanturrados de horror, foram novamente recompensados por uma tempestade que encheu os reservatórios. A revolta dos mercenários acabou por ser dominada e Cartago salva. Baal havia triunfado sobre seus inimigos.


Não foi até a destruição da cidade pelos romanos, que o culto de Baal morreu na costa africana em torno de Cartago. Em 146 a.c., Cipião Emiliano, ao comando do exército romano, ordenou a destruição total de Cartago.

A cidade foi arrasada até às suas fundações e o solo salgado, para que nada mais crescesse nele. De seguida, foi lançada uma maldição sagrada sobre o local, declarando-o de interdito. Os sobreviventes foram aprisionados e vendidos como escravos.

Assim morrem os deuses, quando outros deuses mais poderosos do que eles vencem. Mas eles morrem lentamente…


NO MUNDO DAS TREVAS

Os Baali são uma linhagem de vampiros, às vezes identificados como clã, e a sua origem é complexa e incerta. Podem ser uma linhagem de Saulot/Ashur, tanto quanto de Ashur/Cappadocius ou do Ancião Tzimisce.

Eles podem recrutar e corromper vampiros de outros clãs para engrossar as suas fileiras. Através de um ritual de Taumaturgia Negra chamado de Rito de Apostasia, o recruta prova a sua lealdade, ganha a nova Disciplina de Daimonion no lugar de uma das suas antigas Disciplinas de Clã, e torna-se um Baali. De outra forma, o seu Abraço original, tem requintes de crueldade inimagináveis.

Uma linhagem, um clã, uma seita, um culto… a ambiguidade é grande no que respeita aos Baali.

A verdade é que os Baali são odiados e temidos pela maioria dos Cainitas pelas suas Disciplinas demoníacas e a sua associação aos Decani, os 36 demónios que os assistem. Poucas coisas unem as seitas e os clãs como o ódio ao crime do Infernalismo.


Seja como for, os Baali estão naturalmente associados à adoração de demónios desde a sua misteriosa origem. Seja o seu propósito manter os demónios satisfeitos e a dormir, alimentando-os com carnificina e caos, ou verdadeiros infernalistas, que usam a adoração para fazer barganhas com demónios e ganhar poder e conhecimento para desencadear o inferno na Terra.

Em todos os mitos loucos da sua criação, desde a origem aos fundadores da linhagem, a associação à mitologia semítica, cultuada desde o Oriente Médio às colónias fenícias do Mediterrâneo e a Cartago é omnipresente.

Os três fundadores consensuais: Nergal/Shaitan/O Menino Escravo/Ba’al, o Destruidor/Huitzilopochtli, Moloch e o Inominável, têm em si a semente de Baal.

(Se bem que Nergal seja o nome de um terrível deus semítico e mesopotâmico do submundo, o Senhor do Mundo Inferior, deus da destruição, da peste e epidemias, da guerra e das mortes violentas.)


E depois temos os lugares. O espaço físico dos Baali gira

em torno dos lugares de adoração a Baal e aos deuses associados a ele. A mítica fortaleza de Chorazin, a norte da Galiléia, as fortalezas Baali da Mesopotâmia e da Fenícia… Tiro, a cidade histórica fenícia, tinha como Príncipe a cria de Moloch, Tanit.

E claro, Cartago. Quando Moloch em confronto com Shaitan se afastou, levou as suas crias mais leais para Cartago. A cidade era domínio de Troile e dos seus Brujah. Moloch seduziu Troile, e logo a linhagem dos Baali se tornou a mais influente na cidade, exigindo sacrifícios de sangue e adoração aos seus mestres infernais pelos mortais que habitavam a cidade.

Num paralelismo entre Baal e Tanit, Moloch e Troile tornaram-se amantes, selando a sua união com Laço de Sangue.

Na última Guerra Púnica, em 146 a.c., quando os Ventrue romanos chegaram, Troile e Moloch lutaram lado a lado pela defesa de Cartago na batalha final. Foram derrotados, e ambos se afundaram na terra num último Abraço.

Os vampiros de Roma salgaram o solo, e decretaram um ritual que enclausurou Moloch e Troile sob a terra, num eterno torpor.


E assim morrem os deuses…Mas será que morrem?

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