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A Fome

No meu mundo quando ela desperta tudo fica vermelho. Uma espiral alucinada que aspira e apaga mentes e vontades. Só a Fome existe. E o desejo. Primordial, absoluto e violento, de a satisfazer. Todo o sentido da vida e da morte consubstancia-se ali, naquele ponto negro, vermelho do Sangue. E ela está sempre lá, subterrânea e pulsante, insaciada. Com o tempo aprendi a domá-la, alimento-a por entre as grades, sem nunca a domesticar. Feras não se domesticam. Dizem que alguns, poucos, conseguiram vencê-la. Não sei, nunca vi nenhum…Mas na escuridão, na hora da caçada ela é bem-vinda. Posso montá-la como se monta um cavalo selvagem, e a sensação é indescritível.


Sinto o corpo quente debaixo de mim. O sangue que pulsa nele, e os batimentos rápidos do coração vibram nas minhas coxas, repetindo-se em cada célula do meu corpo. Podia devorá-lo agora, completamente, até ao fim. Podia matá-lo duas vezes, matá-lo mil vezes, que a minha fome nunca iria embora… Um frémito de prazer, e um arrepio percorre-me. Contraio as costas e lanço a cabeça para trás, na antecipação do sangue a escorrer pela minha garganta. O corpo estendido que as minhas pernas cercam agita-se, num primeiro indício de confusão e medo intensificando o meu desejo e, pela primeira vez, olho-o verdadeiramente. Por um instante ele vê-me, tal como sou. No mundo vermelho negro o desejo ilimitado, sinuoso, escuro e mortal, explode. Deixo-me cair sobre ele, e afundo-me na vertigem que a vida produz na morte.




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