A Morte do Diálogo (Realizada em: 07/06/18)
“A arte de ouvir é o pré-requisito da sabedoria. O matemático grego Pitágoras em tempos da grande civilização grega, já filosofava: “Quem fala semeia, quem escuta, colhe”. Vivemos tempos em que a história, tradições e cultura emudeceram. A humanidade resolveu desprezar o passado, e, com isso, a mediocridade se impõe na cultura rasteira, fake, sem noção, do tipo Google, Wikipédia e falsidades espelhadas ao vento pelas diversas redes.” - Eduardo Aquino
Nesta direção iniciaremos o tema da palestra desta noite. Onde debateremos sobre quais fins chegou-se a proposta do diálogo nos tempos atuais.
Vamos primeiramente ao conceito:
O termo "Diálogo" resulta da fusão das palavras gregas dia e logos. “Dia” significa "através" e “Logos” que foi traduzida para o latim como ratio (razão). Mas tem vários outros significados, como "palavra", "expressão", "fala", "verbo" e, principalmente, "significado" propriamente dito. Em sua melhor definição, o diálogo é uma troca de impressões com o propósito de se alcançar um entendimento. Em sua acepção mais habitual, o diálogo é uma modalidade do discurso oral e escrito da qual comunicam entre si, duas ou mais pessoas, que para tal assunto entrem em um consenso. A conversa autoritária, sem a reflexão da fala de ambos interlocutores, torna o contrário do diálogo. Porque o diálogo genuíno procura a verdade e fomenta o conhecimento sem preconceitos, o que já não acontece na retórica, que tenta persuadir e convencer ao manipular uma opinião.
Percebemos que muitas pessoas não querem mais aguardar a sua vez para falar. Todos querem ao mesmo tempo falar e opinar, são poucos os que estão dispostos a ouvir e conversar, trocar ideias e opinar sem julgar, dizendo que sua própria palavra é a que prevalece. Consequentemente, isso nos afasta por completo da empatia e da compaixão. Nosso diálogo é usado mais para afastar do que aproximar pessoas. Isso se reflete tanto no mundo real quanto no virtual. Tiremos de exemplo aqui, essa plataforma virtual chamada IMVU. Tantas conversas paralelas e sem conteúdo, e não podemos deixar de incluir os filtros mentais que são usados de forma inadequada no momento de definir o que está certo e errado. Nesse caso, preciso saber respeitar, saber ouvir sem tomar posição imediatamente. Há pessoas que procuram um assunto para interagir com outras pessoas e não conseguem, acabam dialogando consigo mesmas, de forma que levam a introspecção, que acabam buscando uma leitura de conteúdo ou algum tipo de entretenimento individual para realmente sentir-se dignificado. Por falar em leitura, vamos voltar alguns anos atrás, onde nossa principal e maior atividade era socializar. A literatura, a filosofia, eram necessárias para adquirirmos conhecimentos, habilidades que facilitavam convivermos em sociedade, permitindo manusear as nossas necessidades de uma maneira natural. Ao contrário de hoje, onde muitos suprem suas necessidades na tecnologia. Onde muitos filósofos tornaram-se misantrópicos e irônicos embora seu maior alvo de estudo, seja a própria humanidade. Mas não podemos condenar exclusivamente o avanço da tecnologia cybernética como algoz principal do individualismo e da morte do diálogo. Acredito que o segredo esteja na forma com que a utilizamos. Vejam o que estamos fazendo aqui, esta noite. Muitos de vocês poderiam estar utilizando de forma inadequada a plataforma, mas preferem estar aqui conosco interagindo de forma saudável, dialogando. Nós sabemos que os chats de entretenimento não são abastados de cultura útil, muito pelo contrário.
O biólogo inglês, Ian Willmut, escreveu em seu livro "A Segunda Criação" sobre o diálogo ser uma fonte de vida. Diz ele: "Os genes não operam isoladamente. Eles estão em diálogo constante com o resto da célula que, por sua vez, responde a sinais de outras células do corpo que, por sua vez, estão em contato com o ambiente externo. Quando esse diálogo não se processa corretamente, os genes saem de controle, as células crescem desordenadamente, e o resultado é o câncer".
A visão dele é muito interessante. Porque o câncer é resultado da falta de diálogo. E não falo sobre o câncer orgânico, falo de como a falta de diálogo mata uma relação de amizade, um negócio empreendedor e um casamento. E para dialogar, é necessário parar e ouvir o que a outra pessoa tem a dizer. Segundo o escritor brasileiro Bartolomeu de Campos Queirós, diz em um texto que “Hoje, estamos com muita gente encontrando a verdade. Quando uma pessoa encontra a verdade, a única coisa que ela adquire é a impossibilidade de escutar o outro. Ela só fala, não escuta mais”. Muita gente tem encontrado uma verdade superficial. Não dando espaço a dúvida. No entanto, pouca gente admite a dúvida, quem encontra verdades só fala, não ouve. Pensando nisso, podemos perceber na ação de uma pessoa, sua arrogância, um nível de superioridade que não lhe permite ser contrariado. A arrogância é contrária a proposta saudável do diálogo, que tem como resultado principal a troca de conhecimentos.
Temos vivido um tempo em que as verdades históricas por exemplo, têm sido gravemente distorcidas e censuradas. E esse é um assunto muito perigoso quando entramos no ramo político e de fatos que podem contribuir com o desenvolvimento do país. Sobretudo, no aspecto de formação intelectual de uma pessoa. Propagam mentiras pelas redes sociais, que contadas diversas vezes com uma versão oposta da verdadeira, ou de ainda com versão conspiratória para se tornar real. Mas o que podemos dizer daquelas pessoas fechadas que não conseguem desenvolver uma conversa, que não buscam se entrosar com as outras pessoas. Por que não conseguem dialogar ou não possuem assunto cativante para uma boa prosa?
Bem, não há muito o que dizer sobre elas, somente que devemos no mínimo nos observar para que não nos transformarmos em seres humanos inertes no mundo, que não é capaz de buscar conhecimentos e partilhá-los.
Porque a vida é uma eterna troca, a vida é movimento e dialogar faz parte do ciclo.