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O Abraço de Melusine


A chamada veio na forma de uma breve mensagem "Seria hoje um bom dia para morrer, me diga?" Tinha sido escolhida! Nesse instante soube que toda a minha vida se conjugara para este momento, mesmo antes de ter conhecido aquele, que primeiro me convidou para a noite. Ofereceram-me a eternidade, e eu aceitei.


- A morte espera me.


Entrei na câmara, e por breves instantes esqueci-me de mim própria, a beleza, a suavidade da luz azulada, a simplicidade imponente da grande sala circular formada por grandes arcos ogivais, deixaram-me tonta. No centro, num plano mais elevado, ladeado por dois imensos castiçais de pedra, um altar dominava toda a sala. Sobre ele estavam vários objetos que não reconheci, mas um atraiu o meu olhar, o grande cálice onde repousava um punhal. Sustive a respiração.


Senti imediatamente a presença ao meu lado, emanava dela força e poder. Voltei-me e olhei-o, era ele, o que doravante seria o meu Senhor, quem me tinha chamado, aquele a quem vinha entregar a minha vida, e mais que isso, a minha futura não-vida e lealdade eterna.

A emoção invadia-me, espalhava se pelo meu corpo ao ritmo do bater irregular do meu coração. Sentia-me viva, como há muito tempo não estava. Deixei a energia da sala fluir em mim, uma energia inesperadamente forte, de vida e morte, quase palpável, estava por todo o lado. Mas o medo não estava ausente, e por um momento a sua sombra tocou-me, e se isto me destruir? No centro da sala, defronte do altar, estava uma figura de mulher, vestida de forma austera e cerimoniosa. Reconheci-a, era a sua esposa, a sua amada. Tinha sido ela a dirigir e orientar o meu aprendizado, eu confiava nela e a sua presença reconfortava me. Saudaram-me, eu retribuí. Ele pergunta-me de novo, da certeza da decisão que tomei. Disse que sim.



O meu coração acelerou, na certeza do início do ritual. Ouvi a voz de Alma dando-me instruções claras e precisas, indicando-me o local da sala aonde me dirigir. Eu já tinha reparado nele, era o sítio onde as pedras estavam manchadas de sangue. Pela última vez olhei à minha volta, queria absorver tudo, interiorizar as minhas últimas memórias humanas, por um momento senti um aperto no peito, um pesar... Avancei! Ele esperava-me, fiquei na sua frente sentindo a sua presença atrás de mim, de forma instintiva inclinei a cabeça e nesse instante, senti a dor, uma dor que me varreu como uma onda, que me submergiu, mas como uma onda na areia da praia, com a mesma intensidade que me atingiu, recuou. Como uma impressão digital inversa, essa dor deixou me um estranho prazer, uma sensação intensa, profunda, de aniquilação, como se me fosse dissolver e então, lentamente, o mundo ao meu redor congelou. Senti o meu coração abrandar, o meu corpo render-se, perder toda a sua vontade, e devo ter desfalecido, estava suspensa entre a vida e a morte, no preciso ponto em que os planos se tocam. Perdi a noção do tempo, ele não tinha mais significado para mim.


Senti me ser levada em braços e deitada na pedra do altar. Ouvia ao longe as palavras e invocações, ditas em tom encantatório. O significado da maioria escapava me, só algumas penetravam no espaço entre o sonho e a consciência em que me encontrava... Deus, maldição, morte, sangue, noite...Lutei para manter a realidade. Sentia a sua presença de novo ao meu lado, executando gestos rituais e logo depois...Provei do sangue pela primeira vez. Bebi do sangue do Vampiro. E foi como se fogo líquido escorresse pela minha garganta, como a lava imparável de um vulcão que tudo leva à sua frente. A sensação e a dor eram incomensuráveis, todo o meu corpo parecia ir explodir, afundei me naquela escuridão brilhante e abracei a Morte."


(Parte 1 - Continua)

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