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Vivemos uma guerra civil verbal? (Realizada em: 23/06/16)


Notamos que ultimamente temos visto muitas brigas em família e entre amigos, especialmente quando o tema é política.

Estaria faltando diálogo ou isso é uma forma de diálogo?

O que acontecerá se a guerra civil verbal partir para uma guerra civil física?

Em algum momento existiu uma verdade absoluta ou apenas se acreditava nela?

Eu preciso escolher um lado? Se é que existe o certo ou o errado.

É preciso saber respeitar as diferenças e uma distância saudável entre as próprias ideias e as opostas.

Com base nestas perguntas, refletiremos sobre o nosso debate de hoje.

É fato que estamos vivendo uma crise de tolerância como nunca dantes vista. Ela fica clara pela desistência do diálogo em todas as camadas. Pessoas muito próximas estão preferindo não abordar mais o assunto política porque sabem que, se o abordarem, vão ter problemas sérios. O que vemos é que estamos em uma guerra civil verbal. O passo de uma guerra civil carnal é quando o diálogo termina, o próximo passo é a agressão física. E então vemos em manifestações a auge da intolerância, se existe tal violência que justifica deletar uma pessoa, dar um murro no outro, separar um casal e fazer irmãos brigarem, é porque as pessoas estão aferradas a verdades cristalizadas.

Hoje, porém, não existe mais uma só verdade. E isso é uma tendência da pós-modernidade. As verdades são todas provisórias. O psicanalista francês Jacques Lacan disse que a maior verdade que você pode alcançar é a “verdade mentirosa”.

Até uns 40 anos atrás, o laço social era vertical e padronizado. E quando você padroniza, tem meios de estabelecer o verdadeiro e o falso, uma verdade superior. Não tínhamos outra visão. Agora, na pós-modernidade sempre há mais de uma forma de construir uma verdade. Por exemplo, os idiomas.

Quando aprende uma segunda língua, aprende uma segunda visão de mundo. Uma terceira língua, uma terceira visão. Estamos entrando em uma época em que a verdade não é mais referência estável ao laço social. Em todos os níveis o laço social será estabelecido por certezas não demonstráveis. Por exemplo, não há nenhuma razão possível, nenhuma verdade que explique o porquê de você ter um filho, muito menos por que morreria por ele. Mas tente fazer uma política sem a possibilidade de explicação. Então, a política tem de ser totalmente reinventada.

Já vemos alguns testes dessa reinvenção. Um exemplo disso é o discurso do presidente Barack Obama em Cuba. Ele escolheu se mostrar como um líder que não fala desde o local do poder, da potência e da arrogância, do “eu sei mais”. Ele fez um discurso a partir das escolhas dele. Quando ele diz frases como “vou dizer o que penso que é melhor para um país”, é como se estivesse dizendo: “Sei que a gente pensa diferente – se não pensássemos não estaríamos brigados esses anos todos. Mas tenho o direito de dizer a vocês o que penso, não tenho? E vocês, por sua vez, de dizerem o que pensam”.

Definir quem está certo ou errado na política, na religião e em tantos outros temas. Na atual disputa, porém, os dois lados saem perdendo.

Entre ser “coxinha” ou “petralha”, dentro da política nacional. Entre ser intruso ou local, na questão dos imigrantes, mundo afora. Entre ser vegetariano ou carnívoro, no quesito alimentação. Entre ser Batman ou Super-Homem, na identificação com os super-heróis de sempre.

Entre tantos issos ou aquilos que a atualidade oferece, você já decidiu de que lado está? Não responda agora, porque a pergunta que vem a seguir é ainda mais importante: você já parou para pensar se realmente precisa escolher um dos dois lados que se apresentam como as verdades da vez?

“Às vezes, o melhor lado é o de fora. Especialmente em momentos de polarização”, provoca o historiador, antropólogo e filósofo Leandro Karnal. Mas ele complementa que é nesses momentos que as pessoas acham mais importante tomar partido. “Concordar com os pressupostos básicos de A ou B é aderir a toda a semântica de comunicação de cada grupo. Quando alguém diz C, sai do código semântico e deixa o outro perturbado porque ele não consegue sequer ingressar nessa linguagem”,

É como se o mundo atual se dividisse entre o bem ou o mal, sendo o bem sempre o lado em que você está e o mal, a posição do outro – claro! Essa visão maniqueísta costuma facilitar a vida, por um lado, pois basta seguir fielmente a doutrina escolhida e sentir o conforto de pertencer a um grupo. Mas, por outro, reduz a riqueza que a vida oferece quando se mantém uma postura mais aberta à diversidade de ideias.

“Devemos ser capazes de apreciar a diferença e manter uma distância saudável entre as próprias ideias e as opostas. Isso significa manter a motivação de que as pessoas possam ser felizes do modo delas, e de que não seremos nós quem lhes ensinará como ser felizes”, segundo diz a psicoterapeuta, Bel Cesar. Isso vale para política, religião, saúde, criação dos filhos, sexualidade, alimentação e vários outros temas. Para cultivar um espaço saudável entre aqueles que vivem de modo diferente, é necessário que cada pessoa mantenha certa curiosidade sobre as razões do outro e procure compreender o que o leva a pensar e agir de uma determinada maneira. “É importante lembrar que o nosso bem-estar depende também do bem-estar comum. Sinto falta disso na nossa sociedade”, comenta Bel.

O ponto positivo é o debate que respeita as diferenças. Segundo a pesquisa feita pelo Instituto QualiBest, uma atitude mais engajada do brasileiro diante dos debates políticos do momento. Há um nível considerável para um país que não se interesse por política. Boa parte dessas discussões ocorre nas redes sociais. A presença maciça da internet na vida dos brasileiros é um diferencial importante entre a atual crise e outras que já aconteceram no país. Está mais fácil se inteirar e se posicionar sobre os assuntos.

DEVEMOS RESPEITAR AS DIFERENÇAS

A palavra fobia é derivada da palavra grega para terror ou estrangulamento. Phobos era um deus grego que causava pânico e medo entre os inimigos daqueles que o adoravam.

A discriminação quando não autocriticada pode desencadear fobias. Nem todo preconceito gera uma discriminação. Mas toda discriminação parte de um preconceito. É necessário que estudemos os nossos preconceitos a fim de que eles não se transformem em discriminação. Pois, tudo o que o inferno significa está contido na palavra “discriminação” porque dela flui: a xenofobia, homofobia e todas as outras palavras usadas para conceituar o comportamento do indivíduo que não aceita as diferenças. Não aceita ao ponto de odiar aqueles a quem ele julga “diferentes”.

Nos últimos dias assistimos a notícia de um massacre numa boate gay em Orlando. O atirador homofóbico matou 50 pessoas e 53 ficaram feridas. Se ainda não sabemos lidar com as diferenças integrais, como saberemos lidar a ‘polissexualidade’?

No vídeo um trecho da palestra, “Tolerância Ativa” ministrada pelo professor Leandro Karnal onde ele faz uma relevante proposta de reflexão acerca deste assunto.

Meu muito obrigado à Alma Vetra por ter ministrado a palestra em meu lugar. Te amo!

Fontes:

Textos de Renata Valério de Mesquita, Leandro Karnal e Jorge Forbes.

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