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Melancolia: A dor de existir (Realizada em: 10/06/16)


DEPOIMENTO DE UM MELANCÓLICO:

Não sei quando começou, muito menos o motivo, mas as vezes eu me desligo do mundo, não reconheço as pessoas e o meu próprio eu a mim é estranho. Os pensamentos soltos e desconexos me afligem, sou tomado por uma angústia que me leva a labirintos existenciais e ali permaneço em silêncio. Me protejo, me excluo e afasto qualquer sinal de presença física, me enclausuro dentro dos limites que a mim imponho e ali permaneço, parado... Estático.

As minhas emoções me sufocam, é tudo tão intenso que muitas vezes não as consigo controlar. Eu não ouço, não exergo e muito menos deixo que outras palavras que não sejam as minhas ecoem na minha mente.

Outras vezes sinto grande necessidade de viver, frenético procuro pessoas, e uma euforia fora do comum toma conta de mim, mas tudo isso se apaga, some em fração de segundos.

Reconheço minha fraqueza, mas não faço nada para superá-la, admito que me acostumei e minha escolha foi viver nesse comodismo. Vou vivendo os meus dias oscilando entre os sonhos de liberdade e o peso que me aprisiona na minha própria mente.

O mundo para mim é um lugar estranho e muitas vezes me pergunto onde eu vim parar? Por que esse existir que me dói tanto a alma?

Melhor seria nunca ter vindo parar aqui do que ter essa terrivel sensação de desistência do viver.

E para sobreviver, crio a falsa ideia de que estou bem...

HISTÓRIA

Melancolia é a uma das formas de sofrimento mais antigas, é um termo que vem desde a Antiguidade clássica: Hipócrates procurou explicar os distúrbios mentais como resultado de um desequilíbrio entre os quatro humores básicos do corpo: o sangue, a linfa, a bile amarela e a bile negra, a que correspondiam os quatro temperamentos: sanguíneo, fleumático, colérico e melancólico.

A bile negra acumula-se de preferência no baço, cujo nome em inglês, "spleen", alude ao estado melancólico. Mais tarde, buscou-se uma correspondência astrológica entre humores e planetas.

Dentro da cosmologia humoral encontrava-se associada à terra, ao frio, ao seco, à cor preta, à velhice e seus filhos eram representados por coxos, enforcados, jogadores de azar, religiosos e criadores de porcos. O planeta que regia a melancolia, não à toa, era Saturno, planeta distante, de lenta movimentação.

Contudo, na visão aristotélica, a bile negra também confere qualidades artísticas e intelectuais.

As idéias de Hipócrates e Aristóteles foram ampliadas pelo mais célebre médico da Antiguidade, Galeno de Pérgamon (c. 129 d.C.-c. 200 d.C.).

Galeno acreditava que o cérebro -não o coração, como dizia Aristóteles- era o centro das emoções. A melancolia resultava, para Galeno, de uma inundação do cérebro pela bile negra, cujo excesso, por sua vez, era consequência de um espessamento do sangue, a ser tratado pela sangria. No início da Idade Média ocidental, contudo, um novo termo surgirá: acedia ou acídia. Segundo João Cassiano (c. 360 d.C.- c. 435 d.C.) era um "desgaste ou perturbação do coração, especialmente frequente em solitários". A acídia estava associada à "tristitia" e à "desperatio" (tristeza e desespero).

Para os escolásticos, contudo, tratava-se de um problema emocional, segundo o conceitos hipocrático e galênico do humor melancólico, com a diferença de que, na acídia, era mais frequente o pensamento delirante.

A Renascença, com sua volta à cultura clássica, também endossara o conceito de melancolia, preferindo-o, contudo, no sentido aristotélico: doença, sim, mas com um toque de gênio.

Goethe definirá a melancolia como uma submersão em um mar de sensibilidade (razão pela qual os renascentistas alemães elegeram Saturno como patrono). Milton irá se referir à melancolia como a deusa do êxtase poético e visionário, uma deusa sábia e santa, filha de Saturno e Vesta. Fernando Pessoa, por sua vez, irá criar um heterônimo que é uma ode à melancolia: Bernardo Soares e seu Livro do Desasossego com suas páginas cunhadas a partir de “As grandes melancolias, tristezas cheias de tédio” (como ele próprio afirma). Kant dirá que a melancolia é a verdadeira virtude (a única baseada em princípios) e Victor Hugo a definirá como a “alegria de estar triste”.

Para Freud: "Os traços psíquicos distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição do sentimento de auto-estima, expressada em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição"(Luto e Melancolia, 1917/1976a, p. 276).

TEMPERAMENTO MELANCÓLICO

Bilioso ou Melancólico é o temperamento característico de pessoas com muita energia, pouca excitação, tristes, sonhadoras, idealistas, perfeccionistas, muito inteligentes e que têm como grande qualidade à profundidade.

O indivíduo com a predominância deste temperamento vive constantemente em luta com duas faces da sua natureza: seu desejo de se sacrificar e seu impulso egoísta de não se envolver.

O melancólico sente todo o peso do mundo porque não consegue dominá-lo (dentro do que é possível) com sua alma e adaptar-se a atmosfera terreste. Ele sofre com intensidade, levando-o a um mal estar súbito e experimentando dores mesmo estando saudável.

O temperamento melancólico é analítico, abnegado, bem dotado e perfeccionista. Isto o faz admirar as belas artes. É introvertido por natureza. Mas as vezes é levado por seu ânimo a ser extrovertido. Outras vezes enclausura-se como caramujo, chegando a ser hostil. É amigo fiel, mas não faz amigo facilmente, por ser desconfiado. Tem habilidade de analisar os perigos que o envolve. Força-se a sofrer e sempre escolhe uma vocação difícil, que envolva grande sacrifício pessoal. Muitos dos grandes gênios do mundo, artistas, músicos, inventores, filósofos, educadores e teóricos, eram melancólicos.

São regidos pelo Elemento Terra, portanto gostam de estar bem com o "pé no chão" em tudo que fazem. Não gostam de correr riscos.

Tendem a ser mais tristes podendo chegar a depressivos. Seu grande problema é que se tornam facilmente pesados e tristes. A vida pode tornar-se um grande fardo.

Não se abrem com pessoas, têm poucos amigos, mas são muito leais a esses poucos que conseguiram fazer com dificuldades.

PONTOS POSITIVOS:

  • É uma habilidoso, minuscioso e perfeccionista – quer excelência no que faz

  • É idealista, leal e dedicado

  • Sensível

  • Bem dotado e tendências para gênio

  • Ama música, artes, natureza

  • Capacidade analítica

  • Reage fortemente à emoção

  • Pensador profundo, dado a reflexão

  • Uma pessoa confiável

  • Faz amigos cautelosamente

  • Tem fortes tendências ao perfeccionismo, gosta de trabalho analítico e detalhado

  • Conhece suas próprias limitações

  • Tem auto-disciplina: termina o que começa

  • Tem aptidões para ser músico, contador, arquiteto, educador, decorador, escritor, poeta ou trabalhar com artes manuais

PONTOS NEGATIVOS:

  • Pessimista: sempre olha o lado negativo das coisas

  • Introspectivo e orgulhoso

  • Crítico, busca perfeição e julga de acordo com suas idéias

  • Desconfiado e de difícil convivência

  • Muito teórico, pouco prático

  • Resistente a mudanças: analisa exageradamente, o que gera desmotivação

  • Fica deprimido com suas criações

  • Sua ocupação de vida tem que exigir o máximo de sacrifício, abnegação e serviço

  • Tendência a se sentir frustrado com suas criações

  • Indeciso

LINHA TÊNUE ENTRA A MELANCOLIA E A DEPRESSÃO

No mundo atual, a cultura do imediatismo é bastante comum e incentivada, as pessoas buscam a todo momento resolver seus problemas em curto prazo, deixando de lado um tempo para ajuste e planejamento de ações que levem a resolução dos problemas e até a conquista do que se almeja, e isso pode levar a um sentimento de frustração e perca de habilidade em administrar o tempo.

O rítmo frenético e acelerado da vida hoje, o número de informações que se propagam, as cobranças de boa performance, de que a pessoa tem que ser bem sucedida e que sempre se dá bem, são estímulos que psicologicamente não temos como processar bem, os níveis de ansiedade aumentam e o tempo para absorver e processar tudo isso é pouco, podendo assim gerar a depressão.

Os sentimentos se confundem de tal maneira que nos dias atuais é muito comum presenciarmos alguém queixar-se de que está melancólico ou deprimido. Pesquisas apontam que muitos casos de ausência no trabalho acontecem por causa de sintomas depressivos.

Para a psicanálise, a melancolia é o estágio mais extremo das patologias que causam depressão.

Melancólicos têm uma sensação de vazio que é muito mais grave do que quando se está deprimido. A apatia do melancólico é fruto da perda de algo ou de alguém, que precisa ser compreendida e superada, em um processo semelhante ao do luto. A diferença é que, enquanto no luto a perda é compreendida, na melancolia ela é inconsciente: não se sabe o que foi perdido e a pessoa fica ruminando a dor por muito tempo, podendo até nunca superá-la.

Na melancolia, o mal do mundo cai sobre a própria pessoa, ou seja, quem não vale nada é o “eu”. Uma característica que se apresenta claramente no melancólio, é a perda da autoestima, um enorme empobrecimento de si mesmo. O pensamento é absoluto: ou é ótimo, ou não é nada. Não existe meio termo, não existe algo que tenha coisas boas e ruins ao mesmo tempo. Verdades são verdades, mentiras são mentiras.

Evoluindo para um estado de impotência diante da vida, muitos sintomas da depressão, como a melancolia, caminham juntos com a ideia da redução da aceleração da vida, da passagem mais lenta do tempo.

POEMA

Estrambote Melancólico (Carlos Drummond de Andrade)

Tenho saudade de mim mesmo,

saudade sob aparência de remorso,

de tanto que não fui, a sós, a esmo,

e de minha alta ausência em meu redor.

Tenho horror, tenho pena de mim mesmo

e tenho muitos outros sentimentos

violentos. Mas se esquivam no inventário,

e meu amor é triste como é vário,

e sendo vário é um só. Tenho carinho

por toda perda minha na corrente

que de mortos a vivos me carreia

e a mortos restitui o que era deles

mas em mim se guardava. A estrela-d'alva

penetra longamente seu espinho

(e cinco espinhos são) na minha mão.

Fontes: http://blog.cancaonova.com/

http://www1.folha.uol.com.br/

http://www.interseccaopsicanalitica.com.br/

Canal do youtube: Christian Dunker; Sueli Repulho.

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