† Parte 3 - Revelando a Sereia
Ajoelhou-se naquela escuridão sem fim
E como há muitos não fazia, quando ainda Hórus emitia seus raios de luz e lhe aquecia a face todas as manhãs.
Quando ainda não precisava esconder-se nas entranhas da terra, evitando ser queimado por teu pecado.
Ele então estava ali, falava com Deus com tal devoção.
Em todas as vezes que se direcionava, exibia sua arrogância e prepotência de uma raça que se julgava mais elevada que a Criação.
Questionava-Lhe por todos os percalços de sua incursão maldita que o levou ao estágio constante de morte.
Ajoelhou-se, entrelaçou os dedos apertando suas mãos acima da cabeça e seu corpo encurvava-se ao chão.
Ele clamou em suplício meio aos fluídos lacrimais que vertiam de seus olhos, enquanto o chão se encobria de sangue... O sangue do seu abandono.
Ele era um ser sozinho,
Ele era um maldito ser implorando sua redenção.
Pedindo o livramento por seu pecado, seja ele qual fosse.
Pedindo a Deus que o olhasse com o mesmo amor que outrora o olhara, como a quem olhava seus filhos errantes e os direcionava novamente mostrando-lhes o caminho.
O caminho que lhes ajustavam os pensamentos e lhes mostravam as verdades encobertas pelas vontades.
Tipos de preces não são atendidas, somente as verdadeiras e puras são.
Ele sabia que não seria ouvido se não fosse assim.
Não se esquiva de quem pode ver além dos olhos, além da alma e do coração.
Advindo de todas estas prerrogativas e peito aberto, clamou que lhe arrancasse a dor daquele amor que lhe pungia o peito drasticamente.
Ele permaneceu assim por minutos em intensa comunhão com Deus,
Algo aconteceu...
Uma luz tênue despontou do alto até sua cabeça.
A revelação aconteceu minutos após levantar-se.
Tonteou, e quando ele abriu os olhos, as visões se passavam diante de seus olhos, ainda turvas, mas podia entender o que via.
Viu-a feliz nos braços de outro homem em um jardim florido com seus filhos, que pequenos, corriam ao redor deles.
Viu o amor que ela dizia sentir esvair-se por entre seus dedos
O engano de ser trocado por outro, e sua condição entre os amaldiçoados.
Sentiu ódio momentâneo, perante a traição
Assistiu alheio àquele cenário, mas entendeu que daquele momento jamais desfrutariam juntos.
Entre o mundo mortal e sua condição inumana não haviam estas possibilidades.
Eles não pertenciam ao mesmo mundo e isto ficou bem claro para ele.
Grossas lágrimas de sangue escorriam de suas faces, mas desta vez não de culpas, mas de alívio por ter tido esta revelação.
Despediu-se daquela relação fantasiosa, sentia raiva não dela, mas de si mesmo. De ter se enganado tanto com alguém que não era e nunca haveria de mergulhar e se perder em seu abismo profundo de amor.
(Final)
| Parte 3 - Revelando a Sereia, Luz Cappadocius