Consumismo da linguagem (Realizada em: 26/08/15)
Hoje trouxe para o debate um texto bastante interessante e oportuno. O texto li essa semana de uma das minhas escritoras preferidas. Vez em quando trago textos dela pra cá para nós debatermos.
O motivador maior desses nossos encontros é no intuito de causar um questionamento pessoal e de juntos refletirmos sobre o que esses autores nos tem a dizer.
Como sabem eu SEMPRE dou referências aos meus textos e as minhas leituras. E isso não sobrepõe a mim ao cargo de demagogo, mas de um divulgador de assuntos pertinentes do nosso cotidiano.
Bom, o texto é da filósofa e escritora que adoro, Márcia Tiburi ela escreveu essa semana um texto para a revista Cult, que falava sobre a forma com que a gente se expressa quanto aos assuntos cotidianos. Existe uma onda atualmente na internet, nos programas televisivos de fim de semana, nos talk shows da vida, tratando assuntos sérios escrachando-os de maneira exacerbada.
Notaram como nos últimos tempos toda imagem seja ela de um evento solene ou não vira meme? Assuntos em geral viram piadas. Assuntos que mereciam mais seriedade e profundidade de serem debatidos são banalizados e consequentemente não são ouvidos com o mérito e com a seriedade que precisam.
É nesse ritmo que inicio o tema dessa palestra.
Vamos ao texto:
No processo de rebaixamento dos discursos, do debate e do diálogo que presenciamos em escala nacional, surgem maledicências e mal entendidos que se entrelaçam formando o processo que venho chamando de “consumismo da linguagem”. Meios de comunicação em geral, inclusas as redes sociais e grande parte da imprensa, onde ideologias e indivíduos podem se expressar livremente sem limites de responsabilidade ética e legal, estabelecem compreensões gerais sobre fatos que passam a circular como verdades apenas porque são repetidas. Quem sabe manipular o círculo vicioso e tortuoso da linguagem ganha em termos de poder.
O processo que venho chamando de “consumismo da linguagem” é a eliminação do elemento político da linguagem pelo incremento do seu potencial demagógico. O esvaziamento político é, muitas vezes, mascarado de expressão particular, de direito à livre expressão. A histeria, a gritaria, as falácias e falsos argumentos fazem muito sucesso, são livremente imitados e soam como absurdos apenas a quem se nega a comprar a lógica da distorção em alta no mercado da linguagem.
LuzCappadocius: (Ela quer dizer que foge ao teor político, quer dizer foge a de fato um conteúdo crítico construtivo e passa a virar um discurso abrasivo, caloroso manipulado...Onde quem vence é aquele que contra argumenta melhor ou sabe manipular as palavras)
A lógica da distorção é própria ao consumismo da linguagem. Como em todo consumismo, o consumismo da linguagem produz vítimas, mas produz também o aproveitador da vítima e o aproveitador da suposta vantagem de ser vítima. “Vantagem” que ele inventa a partir da lógica da distorção à qual serve. Vítimas estão aí. Uma reflexão sobre o tema talvez nos permita pensar em nossas posturas e imposturas quando atacamos e somos atacados ao nível da linguagem.
Penso em como as pessoas e as instituições se tornam ora vítimas, ora algozes de discursos criados com fins específicos de produzir violência e destruição. Não me refiro a nenhum tipo de violência essencial própria ao discurso enquanto contrário ao diálogo, nem à violência casual de falas esporádicas, mas aquela projetada e usada como estratégia em acusações gratuitas, campanhas difamatórias, xingamentos em geral e também na criação de um contexto violento que seja capaz de fomentar um imaginário destrutivo. O jogo de linguagem midiático inclui toda forma de violência, inclusive a propaganda, que mesmo sendo mais sutil que programas de sanguinolência e humilhação, tem sempre algo de enganoso. O processo das brigas entre partidários, candidatos, ou desafetos em geral, é inútil do ponto de vista de avanços políticos e sociais, mas não é inútil a quem deseja apenas o envenenamento e a destruição social. Quando se trata de derrubar um governo, um projeto alheio, um cidadão, a violência discursiva é uma arma poderosa que serve ao capitalismo, ao racismo e ao patriarcado. Sempre serve ao capitalismo, ao racismo e ao patriarcado porque, como toda enganação, foi criada em seu meio.
Os discursos podem fazer muita coisa por nós, mas podem também atuar contra nós. Ora, usamos discursos, mas também somos usados por eles (penso na subjetividade dos jornalistas e apresentadores de televisão que discursam pela mentira e pela maledicência). Aqueles que usam discursos sempre podem ocupar a posição de algozes: usam seu discurso contra o outro, mas também podem ser usados por discursos que julgam ser autenticamente seus. O que chamamos de discurso, diferente do diálogo, sempre tem algo de pronto. Na verdade, quem pensa que faz um discurso sempre é feito por ele.
Somos construídos pelo que dizemos. E pelo que pensamos que estamos dizendo. A diferença talvez esteja entre quem somos e quem pensamos que somos. Há sempre algum grau de objetividade nessas definições.
Uma pergunta que podemos nos colocar é: o que pode significar ser vítima de discursos na era do consumismo da linguagem? Por que aderimos, por que os repetimos? Há os que atacam e os que são atacados e os que, atacando, se auto-atacam. O que se visa além do poder?
A violência verbal é distributiva e não estamos sabendo contê-la. Mas, de fato, gostaríamos de contê-la? Não há entre nós uma satisfação profunda com a violência fácil das palavras que os meios de comunicação sabem manipular tão bem? Não há quem, querendo brigar, goze com a disputa vazia assim como se satisfaz com as falas estúpidas dos agentes da televisão? Por que, afinal de contas, não contemos a violência da linguagem em nossas vidas? Grandes interesses estão sempre em jogo, mas o que os pequenos interesses de cidadãos tem a ver com eles?
LuzCappadocius: (Qual é o intuito dos que fazem discursos midiáticos no círculo social imvu? Lanço esta pergunta)
Digo isso pensando que o fascismo estatal – inclusive em termos de economia política – sempre nasce de grandes interesses, mas porque pequenos interesses particulares aderem a ele tão facilmente? Por que as pessoas são tão suscetíveis?
A linguagem é rebaixada à distribuição da violência pelos meios de comunicação, redes sociais inclusas. O caso Dilma Rousseff faz pensar na diferença entre crítica a um governo criticável – como qualquer governo – e o rebaixamento da crítica pela pura violência verbal que serve ao consumismo da linguagem manipulado por setores diversos. Falo dos xingamentos, mas o ato de xingar, o “joga pedra na Geni”, é muito mais complexo, porque, tanto mostra a impotência para uma crítica concreta, quanto uma estratégia de destruição.
Quem pode com isso? Se a linguagem foi o que nos tornou seres políticos, a sua destruição nos tornará o quê?