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Nossa sorte, nosso norte (Realizada em: 06/08/15)


Palestra resenha Nossa Sorte, Nosso Norte

Para onde estamos indo? Este o tema que marcara a nova temporada de palestras do Clã Capadócio. A resenha é referente ao título do livro do médico psiquiatra Flávio Gikovate e do filósofo Renato Janine Ribeiro que nos leva a refletir sobre os rumos que estamos tomando. Na nossa palestra de hoje iremos tratar temos baseadas neste livro que pautam sobre a atual ânsia de visibilidade; sobre o lado positivo e negativo do individualismo; sobre o que fazemos com nossa aparentemente maior, liberdade de escolha e onde estamos buscando a nossa felicidade? Será que estamos mesmo querendo deixar um mundo melhor para as futuras gerações?

VAIDADE NA FILOSOFIA

O tema vaidade na filosofia é levantado desde os primeiros filósofos no ano 300 a.C, nós temos uma reflexão filosófica sobre a vaidade que se alonga até mais ou menos à 1800 d.C e há 200 anos esse assunto passou despercebido plano na filosofia. A filosofia recente discute muito pouco esse tema, assim como outras disciplinas como a ciências humanas, tratam muito pouco a vaidade. La Bruyere, Pascal, La Rochefoucault, afirmam que o amor próprio, a vaidade, o desejo de reconhecimento, citam sobre a vanglória - a glória vã. Notem, que especificamente falamos não da glória justa, da glória verdadeira ou orgulho de ser quem você realmente é, mas a glória de quem imagina ser muito mais do que é.

Um ponto comum nestes mil anos discutindo sobre a vaidade, quer dizer que primeiro ela é falsa, e segundo, ela induz as pessoas em erro, o vaidoso é uma pessoa que está suscetível ao erro.

Este ponto é crucial no nosso tempo onde a gente vê nas personagens da mídia, na frase do artista plástico Andy Arhol que diz que “um dia todos terão seus 15 minutos de celebridade”, a gente vê isso na televisão, nas redes sociais, no nosso mundo virtual chamado IMVU, entre os amigos, enfim, vemos em toda parte. E os escritores dizem que a reflexão sobre isso é muito pouca.

“Seja o que for- artifício ou natureza, isso que nos imprime de viver da comparação com outro faz muito mais mal do que bem. Privamo-nos daquilo que nos é útil, para atender as aparências e a opinião dos outros. Não nos importa saber o que é o nosso ser em si em efeito, quanto saber o que é ele para o conhecimento público. As próprias riquezas do espírito e a sabedoria, os parecerão infrutíferas se só forem desfrutadas por nós, se não forem introduzidas para a vista e a aprovação alheia.”

(Michel de Montaigne Séc. XVI)

Os vaidosos são manipuláveis, são trunfo de poder. Vemos em redes sociais a gama de pessoas que, não só dizem besteiras mas se arrogam de dizerem besteiras, e isso numa grandiosidade. Você vê o quanto de imbecilidade, e o quanto de imbecilidade satisfeita consigo mesmo. E isso eu acho uma coisa espantosa.

VISÃO DA PSICOLOGIA

Na área da psicologia também como a filosofia tem explicado muito pouco a questão da vaidade. Na psicanálise, a palavra vaidade desapareceu do vocabulário oficial Laplanche, nele não consta a palavra vaidade. Construiu-se uma teoria psicológica desprezando e desconsiderando a vaidade, mudando para o Narcisismo que subentende-se o amor por si mesmo, mas é uma expressão dúbia, por que amor não é obrigatoriamente igual a vaidade.

Esse desejo de se destacar nunca esteve tão exaltado e talvez seja por isso que as pessoas não gostem de falar sobre isso. Tudo gravita em torno disso, o exibicionismo sem fundamento, pelo prazer erótico de se exibir e se destacar, ele evidentemente pode se dar sempre de duas maneiras; o indivíduo buscar o destaque por algum feito legítimo no qual ele se envaidece meritoriamente. E o envaidecimento pelo simples fato de ser muito conhecida ou conhecida, ou seja, vaidoso por nada, só por ser conhecido. De alguma maneira o próprio Facebook faz um pouco disso. Esse exibicionismo se manifesta também muito na questão erótica, desde os anos 70 pra cá o exibicionismo feminino ficou exaltado, chocando a vista dos homens, provocando tensões, filmes, invejas, rivalidades. O mundo não melhorou com esse exibicionismo todo, ao contrário, a qualidade das relações humanas vem se complicando, não exatamente por causa disso, mas certamente sendo um dos principais fatores. A onda liberal da sexualidade também é uma vaidade erótica. É engraçado dizer, mas ainda falando sobre as redes sociais, ela virou basicamente um gerador de inveja, um cartão postal dos lugares visitados, comidas e tal. E quem não está na ilha tal ou no restaurante tal, está em casa morrendo de inveja. Mais um desserviço pra sociedade, excluindo o fato é claro, os serviços indiscutíveis, pois toda a internet e rede social teve um avanço super produtivo. E a gente não deve se apegar só ao lado negativo das coisas.

Temos exemplos de reencontros de pessoas que você conheceu no passado, essa comunicação à distância, temos nós aqui, o avanço como um veículo de divulgação de trabalhos e eventos, acesso a informação, etc. Não é animadora a situação da vaidade, justamente por que o incentivo é muito grande hoje para a auto promoção. Nós estamos em uma sociedade em que muitos dos valores emocionais foram muito contestados e muitos deles assentavam em hipocrisia. Mas também a importância da aparência ficou tão grande que ela passa a ser utilizada como um instrumento poderoso de ascensão social e de afirmação.

LIBERDADE

Parceiro, partido político, religião... Tudo indica que hoje temos mais liberdade de escolha, mas essa constatação levanta outras questões. Fazemos boas escolhas? Fazemos o que queremos? Escolhemos por opção ou para agradar os outros?

Estamos hoje mais livres? Sim, é uma realidade. À respeito por exemplo da questão da liberdade e da democracia, nós podemos considerar que, levando-se em conta que nós temos mais de 200 países diferentes no mundo. Alguns dos quais muito povoados e outros bem menos povoados, é razoável supor que cerca de 60 à 70% vivem em sociedade democráticas e tendendo como escolha de governantes com liberdade de partidos antagônicos. E com liberdade pessoal de as pessoas poderem escolher seu destino, seu cônjuge, sua religião, etc.

Descartando a Rússia e a maior parte dos países que foram soviéticos, a China, praticamente toda a África, alguns países da Ásia. Restam popularmente 70% sem exagero que estão em condições de liberdade política e pessoal razoáveis, e isso é muita coisa.

Por exemplo, da democracia grega, mais especificamente estudos sobre a teoria política ateniense, mostra que Atenas teria na época do seu esplendor talvez 150 mil habitantes no ano 400 a.C. uma população mundial que seria aproximadamente 300 milhões pelos cálculos relativos a essa época. Ou seja, a democracia viveria em pelo menos metade de toda população mundial em Atenas, o que nos levou a seguir maioritariamente o regime democrático e não o monástico.

Sob um ponto de vista educacional, a diversidade de especialidades nas faculdades é um fator de liberdade de opiniões e também um fator de insegurança, porque muita gente sente que ao se formar em um curso não tem expectativa de emprego. E isso é muito preocupante.

As pessoas tem liberdade de casar com quem quiser, de divorciar, de casar novamente, de trocar de parceiros e tem uma liberdade de orientação sexual enorme. Tem liberdade para serem solteiros, o indivíduo não é estigmatizado por não ter um estado civil oficialmente casado, é muito mais livre de preconceito de todo o tipo. O que chama a atenção é que com toda essa gama de liberdade, as pessoas vivam de um jeito tão parecido.

Como usam mal e pouco todo esse espaço. Primeiro que talvez a gente precisasse definir um pouco melhor o que seja liberdade também. Como tentar definir primeiro uma ideia do que eu quero ser e depois tentar executar essa maneira de ser, então entrar em concordância com aquilo que eu decido o que eu vou ser.

E esse projeto, deveria ser um projeto interno, um projeto que eu produzo e não um projeto fabricado pelos veículos de comunicação ou pela propaganda. A impressão que dá é que as pessoas, não tendo muito claro o seu projeto de vida, elas acabam usando toda a sua liberdade para obedecer rigorosamente padrões propostos pela cultura, pela publicidade, pelo consumo, pela indústria e pelos interesses não dele pessoalmente, mas principalmente o interesse de terceiros. A liberdade que é o caminho da felicidade, não parece ter o mesmo objetivo e não é o que vem acontecendo. As pessoas têm um enorme espaço para o exercício da liberdade e desfrutam pouquíssimo da extravagância e das diferenças, no sentido de inventar um jeito de viver para si mesmo fora dos padrões.

E isso se aplica a uma preocupação, pois mesmo tendo opção de votar, de escolher seu cônjuge e exercer o seu direito de ir e vir, optam pela má escolha que vai gerar desastres, infelicidade. Talvez a maior parte de nossas escolhas não são boas. E então entramos na prerrogativa que quanto mais tentamos mostrar a essas pessoas que optaram por essas escolhas, mostrando que elas são escolhas infelizes e mal feitas, é uma tentativa autoritária de impor a elas o que elas não querem. E neste sentido, aprofundando na questão da liberdade, refletir sobre suas escolhas, enfatiza-se que a escolha seja qual for, que seja consciente, pensada e jamais induzida, e prioritariamente a mais feliz para si mesmo.

INDIVIDUALIDADE

Outra questão importante abordada no livro é sobre a individualidade, pois a individualidade vem crescendo e muita gente enxerga a questão da individualidade criticando, como algo que atrapalha que vem subtraindo a preocupação das pessoas com o coletivo, com o social, empobrecendo a solidariedade e esvaziando as relações familiares. Onde existe obviamente um fundamento de verdade em tudo isso, mas o individualismo crescente não é fruto de uma teoria, ele é fruto propriamente do avanço tecnológico e da violência. Pessoas e famílias se veem cada vez mais presas interagindo consigo mesmo com equipamentos tecnológicos, não saem as ruas como antes conforme eu cresci e algumas pessoas aqui cresceram, mas também pelo medo da criminalidade. Enfim, a verdade é que diante desse universo, as crianças crescem muito diferentes das nossas gerações e muito mais individualistas, conscientes e competentes de interagir consigo mesmas, acabam ocasionalmente consolidando um individualismo na fase adulta.

Já o filósofo Renato Janine acrescenta a teoria do Flávio Gikovate. O que psicanalista na verdade está falando é da Afirmação do Individualismo e não do Individualismo Destrutivo, aquele que é agressivo para o outro, mas que significa você exercer a sua diferença especifica. O paradoxo do Individualismo Destrutivo é que no fundo é, que todos querem o mesmo para si, mas não suportam esse individualismo no outro.

ÉTICA

Para muitas pessoas deixar de fazer alguma coisa em função do outro, sacrificar-se pela pátria ou pelo planeta, parece não fazer o menor sentido. Se é assim, será que a ideia de deixar um futuro melhor para as futuras gerações vai vingar? Somos capazes de abrir mão do que temos no presente em nome de um futuro que não nos pertence? O que está em questão: A lei ou a ética?

De fato quando você está preocupado somente com àqueles com quem conhece de alguma forma, nem que seja de uma foto que você visualizou e sentiu-se sensibilizado, são desdobramentos de nós. Quando você pensa em quem não existe, num futuro da humanidade isso exige um avanço e é uma das questões mais terríveis da proposta da democracia, porque é extremamente difícil você convencer um eleitor livre e democrático que eles devem se sacrificar e futuro. Fica muito difícil pensar a longo prazo em algo a se fazer pela humanidade, até por que, essas pessoas querem se reafirmar, e o significado de ser mais é ter mais. E como ter uma conduta ética que muitas vezes querer renúncia? A renúncia ao Ter e a renúncia ao próprio Ser.

A Segunda Guerra Mundial não faz muito tempo, a geração dos nossos pais ou avós, poderiam ter lutado ou presenciado, e no entanto, essa guerra foi uma guerra na qual centenas de pessoas lutaram armadamente, milhões de pessoas morreram nos campos de batalha, sem falar os outros. Ou seja, como foi possível há tão pouco tempo pessoas morressem pela pátria e hoje é uma coisa que quase não faz sentido. Soldados norte-americanos não são mais americanos, não são mais cidadãos, não tem a nacionalidade do país sob o qual está lutando, ele é pago. À rigor, se ele fosse aprisionado pelo exército inimigo, ele poderia ser executado como mercenário, tecnicamente quem é pago pra lutar por uma força, só pela recompensa, tem o nome de mercenário. Há convenções internacionais contra eles que executa esses mercenários, porque é considerado desprezível.

Para refletir sobre ideia do sacrifício, embora o nazismo não seja mais uma ameaça mundial, é esquisito pensar sobre a questão da renúncia, em pensar em antes que pessoas deram suas vidas pela liberdade que temos hoje.

O ponto básico de qualquer moral é a recusa da moral pronta, a formação da moral é a formação do sujeito ético, que é o sujeito que decide quais são os valores que ele vai seguir e como ele irá aplica-los, então o sujeito ético é um sujeito interpelado pela ética. A ética não pretende dizer o que é certo ou errado, mas em termos do que eu acho certo ou errado, o justo ou injusto, o bom ou o mal. O que eu acho não necessariamente é o que é. Mas as questões que eu estou colocando são questões de justiça e injustiça, bem e mal, certeza e erro. Nesse sentido sempre tem sido maior importante do que o conteúdo das questões éticas, é o processo pelo qual a pessoa reflete sobre elas. O conteúdo é fácil.

É mais importante para o sujeito, compreender as questões e usar a ética do que obedecer os padrões de ética, e então não haveria diferenças entre a ética e a lei, pois também a lei diz o que eu posso fazer e o que eu não posso fazer.

Por que eu posso obedecer as leis sem acreditar em uma palavra do que ela diz, somente pelo medo da punição.

Sob o ponto de vista psicanalítico o invisualíssimo para as relações intimas se beneficiam, pois o individualismo exagerado faz com que as pessoas renunciem as posturas mais excessivamente generosas, de um se dedicarem demais ao outro, e com isso criando uma situação de equilíbrio porque a diminuição e a renúncia da generosidade cria uma condição favorável para o fim do egoísmo. O egoísta é aquele indivíduo que se governa dentro de certos limites. O generoso também não é aquele sujeito que pensar de uma maneira sofisticada, responde e respeita apenas por sentimento de culpa. Para não magoar terceiros ele magoa a si mesmo, por que ele não consegue dizer não pela dor que ele possa causar ao outro. Então sob o ponto de vista moral, nem o egoísta e nem o generoso são criaturas 100% avançadas.

FELICIDADE

Todo mundo quer ser feliz, mas o que é a felicidade, afinal?

“Ser feliz sem motivo, é a mais autêntica forma de felicidade”

(Carlos Drummond de Andrade)

Como definir a felicidade? Segundo o filósofo Jean Jacques Rousseau, a felicidade pela qual se anseia não é uma sucessão de prazeres fugazes que podem ser muito fortes, mas por que justamente pela sua fugacidade, pelo seu caráter efêmero, eles passam do prazer ao desprazer prontamente. Mas sim, diz ele a felicidade seria um estado simples e permanente no qual a alma basta a si mesma. Ou seja, prazeres simples como fonte de satisfação permanente de prazer interna. O ponto primeiro da felicidade é esse, ela não pode ser confundida com prazer e o grande erro do nosso tempo é confundir de maneira desmedida a felicidade e prazer.

“Eu estou feliz”, essa afirmação é quase uma contradição, por que a felicidade está muito ligada ao Ser do que o Estar. Há uma constância no estado felicidade. Se Estou feliz nesse momento é pouco do ponto de vista de ser uma coisa sólida que possa existir mesmo não tendo os componentes necessários que provocou em mim está felicidade.

Essa condição que é extremante deturpada em nossa sociedade, em um tempo em que as demandas do eterno ficaram tão fortes, vejam a hipersexualização do nosso tempo, o quanto de infelicidade isso traz a pessoa que não está tendo uma vida sexual intensa, e que vê o que ela está perdendo.

Então por isso na questão da felicidade nós andamos muito mal, até por causa dessas “felicidades aristocráticas” que falam que você só é feliz se você for lindo, magro, rico. Um universo que contempla talvez 0,1% da população condenando 99% delas, por não serem portadores dessas propriedades.

Esse sistema de usar isso como critério de referência é extremamente trágico. Por que se você usar um pouco da sua inteligência, do seu saber, no sentido de se ocupar de satisfações que não dependem dessas qualidades que pouca gente tem e pouca gente terá, e sobretudo em depositar a felicidade em um outro. Se a gente conseguir realmente vincular a felicidade a harmonia sentimental por exemplo, o fato de eu estar feliz sentimentalmente não aumente nem diminui a chance de felicidade das outras pessoas. O fato de eu estar contente com as coisas que eu gosto do ponto de vista intelectual, os filmes que eu gosto de ver, os livros que eu gosto de ler, enfim, isso não modifica a chance das pessoas de terem acesso a esses mesmos prazeres que levam a felicidade. Então por isso eu sempre enfatizei a possibilidade de estarmos nesse mundo e aqui neste ambiente virtual buscando valores intelectuais, satisfações acessíveis e que muito dificilmente os traga decepções, e muito menos falsas felicidades. A maior gratificação que eu possa ter é alimentar o meu ser interior sem agredi-lo. Finalizo a palestra de hoje, nisto aqui que seria um ingrediente de felicidade para mim e desejo que também para vocês. rs

Afinal, para onde vamos?

Moderadamente tento ser otimista, por que depende muito das atitudes que tomemos, quer das nossas vidas pessoais, quer atuando social e politicamente. Vamos ter um mundo sustentável não só ecologicamente mas humanamente? Ou vamos continuar por um caminho de destruição? O que se prevê tá muito errado, você vota num partido com uma determinada expectativa que não satisfaz, nós prevemos que a evolução do mundo vai numa certa direção que não dá certo... Enfim, essa é a minha opinião, qual é a sua?

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