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Violência e guerras


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Outra área importante de estudos da Tanatologia é o estudo da violência, presente nas guerras e na guerrilha urbana. Fóton e Owen (1987-1988) realizaram um estudo sobre a compreensão da morte no século XX. Comparam as concepções de morte daqueles que nasceram antes da Segunda Guerra Mundial e os que nasceram depois. Os primeiros têm hoje mais de 70 anos. Quando nasceram a expectativa de vida não chegava aos 50 anos e muitos morriam de doença infecciosa em casa. Quem nasceu depois da Segunda Guerra Mundial já tinha uma expectativa de vida de mais de 67 anos e muitos não têm contato próximo com a morte. As doenças são combatidas com tecnologia avançada e as mortes tornam-se distantes ou invisíveis, ocorrendo, em grande parte, fora do lar, nos hospitais.

Os autores mencionados anteriormente fizeram um estudo sobre as mudanças da mentalidade sobre a morte no século XX, a partir das guerras atuais. Nas obras de Aries (1977), observa-se como durante muito tempo as guerras envolviam combates entre pessoas, sendo que os soldados morriam como heróis ou anônimos, mas tinham tempo para elaborar a morte e realizar os rituais de absolvição e despedida. A guerra do século XX é diferente, o soldado é desconhecido e anônimo. Não morrem apenas os soldados, mas também civis, mulheres e crianças. Muitos não compreendem as razões das guerras.

Umberto e Henderson (1992) realizaram uma pesquisa interessante sobre a guerra do Golfo, como exemplo de guerra do século XX. O que observaram foi ambivalência e a negação da morte, como se fosse possível fazer uma guerra sem mortes. A linguagem, as metáforas e os eufemismos usados nas notícias e reportagens sobre esta guerra provocam algumas reflexões. Observa-se negação, distanciamento, mecanismos de desumanização e dessensibilizarão. Não há menção direta da morte, como se ela ocorresse por acidente ou acaso. A ênfase é dada à descrição da destruição de locais e equipamentos. Não se usa a palavra morte e sim destruição ou eliminação. Os prejuízos são justificados como sendo o preço da guerra.

A negação parece assegurar que, ao não se falar de morte, era como se esta não existisse, confirmando a ideia de que dessa forma não se matavam civis inocentes, a não ser por acidente. Morriam os "culpados", aqueles a serviço do inimigo. A alta tecnologia evita mortes, pois são atacados alvos inimigos, não se "mata" pessoas. O público vai sendo preparado para as mortes "necessárias" da guerra. Procura-se desumanizar os "inimigos", afirmando que as mortes são necessárias visando um objetivo maior. As mortes são causadas pela intransigência dos líderes e não pelos morteiros.

Observa-se, então, um grande paradoxo: a guerra é promovida, mas se imagina que é possível a troca de morteiros e foguetes, sem que mortes ocorram, por isso são ocultadas quando acontecem. Os morteiros e sua capacidade de destruição são espetaculares, são disparados à noite para não serem vistos pelos envolvidos, mas proporcionam um show para quem assiste pela TV.

|Desenvolvimento da Tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer | Por Maria Julia Kovács|

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