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Estudo sobre o luto


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Parkes (1987), grande autoridade na área do luto, menciona as preocupações atuais nas pesquisas sobre este tema. Nos estudos dos conceitos básicos sobre o luto, há os que verificam como perdas afetam estruturas de significado na vida, já que o luto é considerado uma profunda transição existencial. Outra área importante de estudo é o efeito dos processos do luto no sistema imunológico. Dados epidemiológicos apontam que ocorrem muitas mortes após a viuvez. Vários sintomas psíquicos eram vistos como doença física em pessoas em processo de luto, os médicos eram procurados por pessoas enlutadas que apresentavam sintomas como: depressão, insônia, anorexia, aumento no uso de álcool e drogas. Atualmente muitos destes sintomas são relacionados ao processo de luto e não são mais vistos como patologia, como atestam os estudos de Parkes (1987), Stroebe (1987), entre outros.

Parkes refere também pesquisas sobre as diferenças nas respostas do luto, envolvendo questões de gênero. Cita autores que estudam a vulnerabilidade e alto risco de mulheres que perdem seus filhos. Menciona estudos sobre diferentes manifestações emocionais e a realização de rituais em várias culturas. Parkes, Laungani e Young (1997) publicaram o livro Death and bereavement across the cultures, no qual abordam os principais temas e rituais de várias culturas, entre as quais: a hindu, a budista tibetana, a judaica, a cristã e a islamita.

Kastenbaum (1969) se refere a fatores de risco para luto complicado no caso de pessoas idosas, principalmente quando perdem seus filhos adultos. O número de idosos tem aumentado e muitos vivem em situação de risco, com problemas financeiros, isolados, com doenças graves, que podem se agravar com as perdas da vida, constituindo o que o autor denominou sobrecarga de luto. Com o prolongamento do tempo da vida muitos pais estão enterrando seus filhos adultos, e acabam vivendo sozinhos esta perda tão difícil de ser elaborada.

O Luto Complicado, antigamente denominado de luto patológico suscita controvérsias. Segundo Parkes (1998), é preciso muito cuidado para não se classificar precocemente processos de luto como disfuncionais, quando não seguem estágios ou etapas que durante muito tempo foram considerados como inerentes a seu processo. Para o autor uma cuidadosa avaliação é necessária em todos os casos. A questão do luto complicado é um ponto importante para pesquisas, já que muitos profissionais não estão preparados para lidar com este problema. Segundo Rando (1992/1993), há consequências sérias quando não se cuida de pessoas que apresentam risco para processos de Luto Complicado.

É fundamental:

a) identificar fatores de risco;

b) delinear tendências socioculturais e tecnológicas que possam exacerbá-las;

c) observar o que é necessário ser trabalhado para se evitar um Luto Complicado.

Para a autora mencionada anteriormente há dificuldades de identificar o que se considera como fatores complicadores. Aponta a necessidade de revisão de alguns conceitos como luto patológico, desajustado, anormal, disfuncional, desviante, entre outros. A tendência é falar em fatores complicadores do luto, pois retira da pessoa a única responsabilidade pelos problemas. Há circunstâncias anteriores à morte, na própria situação e após o óbito que podem dificultar o processo de luto.

A autora afirma que alguns processos são importantes para elaboração do luto, entre os quais:

a) reconhecer o luto,

b) reagir à separação,

c) recolher e revivenciar as experiências com a pessoa perdida,

d) abandonar ou se desligar de relações antigas,

e) reajustar-se a uma nova situação,

f) reinvestir energia em novas relações.

Entre os fatores que podem causar complicações no processo de luto, observa-se negação e repressão ligadas à perda e à dor. Estes fatores podem ser exacerbados em uma cultura que faz com que as pessoas se controlem, não se manifestem e que vivam como se a morte não existisse.

Há também distorções que afetam a expressão do luto, como o adiamento, inibição ou cronificação do processo. Não há padrões que definam quando um ou outro processo está se instalando, porque também devem ser levadas em conta a maneira de ser das pessoas e suas formas de lidar com situações de crise. Estes itens são importantes para serem considerados pelos profissionais que vão cuidar de pessoas enlutadas, não como um padrão a ser imposto sobre elas, mas como sinais a serem observados. Há uma tendência para "adequar" as pessoas, buscando-se normatização, o que não permite que elas possam viver sua tristeza. O tipo de morte pode afetar a forma de elaboração do luto. Suicídios e acidentes são as mais graves, pelos aspectos da violência e culpa que provocam. Por outro lado, as mortes de longa duração, com muito sofrimento podem também ser desgastantes. Entre os fatores complicadores deste processo deve ser considerada a relação anterior com o falecido, principalmente a que envolve ambivalência e dependência, problemas mentais e a percepção da falta de apoio social. O Luto Complicado pode se manifestar por sintomas físicos e mentais. Em muitos casos é difícil separar um processo de luto complicado e a presença de problemas mentais. Esta diferenciação é fundamental ao se pensar nas formas mais adequadas de cuidado.

Mudanças sociais são responsáveis pelas dificuldades de elaboração do luto nos dias atuais. O rápido índice de industrialização, urbanização e o avanço da técnica médica levaram a uma desvalorização dos ritos funerários. A consequência disto é que ao viverem perdas significativas, as pessoas sentem-se sozinhas, sem saber o que fazer, principalmente quando estão distantes de seus familiares, fato comum na atualidade. Nos centros urbanos, houve aumento significativo da violência, dos acidentes e do abuso de drogas, resultando no aumento das mortes violentas e traumáticas, um dos fatores de risco para luto complicado. A morte escancarada por ser inesperada não permite preparo prévio. Envolve múltiplos fatores que podem dificultar a sua elaboração: perdas múltiplas (morte de várias pessoas da mesma família), perdas invertidas (filhos e netos que morrem antes de pais e avós), presença de corpos mutilados, desaparecimento de corpos e cenas de violência (Kóvacs, 2003).

Mortes lentas, em processos crônicos, também causam dor e sofrimento. O aumento do tempo de vida, também daqueles com doenças lentas e degenerativas, faz com que se viva longos processos de morte, causando desgaste físico e psíquico aos seus cuidadores, que sofrem com a perda da pessoa que conheciam, complicando o processo do luto (Hennezel, 2001). Podem ocorrer sentimentos ambivalentes, tristeza pela perda e raiva pelo abandono, desejo da morte para alívio do sofrimento, que pode provocar culpa, podendo ser este um fator de risco para o luto complicado.

O luto não autorizado também deve ser pesquisado, como apontaram Corr (1998/1999), Doka (1989), Casellato (2005). Um exemplo é a morte por aids, quando companheiros não podem chorar a mútua perda, porque seus amigos e familiares não sabem da relação entre eles. O aborto é também uma situação de perda não reconhecida, já que a morte ocorre antes da vida ser reconhecida socialmente. Trata-se de grave engano, pois pode haver intenso investimento de amor em uma gravidez com a expectativa do nascimento do filho. Com o aborto inicia-se o processo de luto para elaboração desta perda. Um outro exemplo de luto não autorizado é o dos amantes em situação de adultério, pois sua relação, muitas vezes, não é aceita. Adolescentes, às vezes, não têm seu luto reconhecido, já que frequentemente se isolam ou se retraem dando ideia de que não estão envolvidos com a situação, o que pode aumentar a sua dor, pois o seu sofrimento não é percebido.

Para o futuro, Parkes (1998) sugere a criação de instituições para prestar cuidados durante o adoecimento e após a morte, o desenvolvimento de programas de cuidados paliativos, os hospícios, garantindo-se a especificidade dos trabalhos, que atendam às necessidades de cada população. Por exemplo, em Israel foi criado um serviço de ajuda para viúvas e viúvos da guerra; na África, as instituições cuidam dos órfãos da guerra civil. No Brasil, citamos o trabalho do Laboratório de Estudos sobre a Morte no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e do Laboratório de Estudo sobre o Luto, na Pontíficia Universidade Católica de São Paulo. Merece destaque o trabalho de Maria Helena Pereira Franco, coordenadora do Instituto Psicológico de Emergências, que oferece cuidados a sobreviventes e familiares enlutados em catástrofes, como foram os grandes desastres aéreos ocorridos em 2006 e 2007 em nosso país.

|Desenvolvimento da Tanatologia: estudos sobre a morte e o morrer | Por Maria Julia Kovács|

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