top of page

Os Liches


A natureza assegura que os padrões viventes eventualmente se degradem e morram. A idade consome o corpo, a decrepitude se apodera da carne e a alma vai embora ou se dissolve. E, talvez, a maior maldição da humanidade é o conhecimento de sua própria mortalidade. Entre os magos, aqueles que possuem alguma pista sobre os destinos espirituais que nos aguardam no pós-vida, tais terrores podem se tornar obsessões. Aqueles determinados a se sustentarem após seus dias mortais buscam fórmulas misteriosas projetadas para dar margem a natureza, restaurar a juventude, parar a decrepitude e enganar a própria morte. Alguns magos acabam por receber a morte, mas a sua maneira. Eles usam o Ritual do Liche. Embora a Ordem de Hermes comumente usava poções e rituais para prolongar a vida (e outras Tradições criaram Efeitos similares dentro de seus próprios paradigmas), apenas dentro da Ordem o terror da mortalidade e a busca pelo domínio da magia tornaram-se tão grandes que um mago arriscou sua vida e sua alma num feitiço para se proteger da ceifadora. A fórmula do Liche, apesar de enterrada pelo tempo e suprimida como heresia, prometeu uma saída. Ainda, a oferta da existência perpétua permanece uma sombra atormentadora para aqueles magos que temem a morte, que desejam terminar um grande negócio ou se tornar Mestre em suas Artes, empurrando-os além das medidas racionais. Ironicamente, a fórmula para o Liche é marginalmente mais fácil comparativamente que a maioria dos feitiços de imortalidade. De fato, um mago nem mesmo precisa ser um Mestre para usar essa magia. Tentações do caminho das sombras, talvez.

Embora alguns magos enganem a morte com feitiços, o Liche com meios de recebê-la. O mago circunda a si com ornatos de sua magia e ego. Através da força de sua dedicação, ele amputa seu Avatar desse mundo vivente e mutante ao seu redor. Ao fim do ritual, ele comete suicídio e invoca o último passo, no qual ele faz com que seu Padrão se prolongue perpetuamente no vértice entre a vida e a morte. Nem verdadeiramente vivo, nem ainda totalmente morto, o mago permanece na meia existência de um Liche. A um passo do limiar da morte, o Liche não precisa mais temer seu desfecho derradeiro. Os registros da Ordem sobre o Liche estão longe de estarem completos e muitos Herméticos consideram o Liche um estado abominável. Assim, o ritual raramente é copiado ou arquivado. Alguns magos até mesmo destroem quaisquer registros que encontram a respeito do Liche. Cronistas e teóricos da Ordem podem manter ruminações fragmentadas sobre o processo, mas certos que nenhuma versão completa e integral exista, exceto, talvez, entre os tomos de um Liche que ainda exista hoje. Devido aos registros da Ordem serem tão fragmentados, o ritual do Liche é insuficientemente compreendido e seus passos são normalmente personalizados pelos poucos magos que o buscam. O mago inicialmente cria uma arma pontiaguda ou cortante especial na qual se matará com ela. Essa arma é feita de antemão pois ela acompanha o mago pelo restante do ritual. O paradigma Hermético prescreve que o item precisa ser feito de prata, apesar de outros materiais também funcionarem.

Uma vez que a arma esteja completa, o mago precisa reivindicar cada parte de seu Avatar e cortar todos os laços externos com ele. Isso significa que o mago precisa capturar e destruir todo Talismã que ele criou e cada elo simpático que ele tenha ligado a sua alma. Ele precisa até mesmo matar seu familiar, caso ele tenha um. Um mago com um Avatar fragmentado precisa rastrear e tomar posse das partes perdidas, algo com uma filactéria precisa estar ligado a sua pessoa pela duração do ritual. Partes marcadas ou danificadas de um Avatar não impedem essa parte do ritual, mas se alguma parte do Avatar por completo de alguma forma foi retirada do mago, ela precisa ser recuperada. Uma vez que o mago tenha cortado todos os elos de seu eu mágico, ele precisa purgar seu Padrão de qualquer magia externa. Apenas sua própria força de vontade pode mantê-lo vivo além da sombra da morte. O mago precisa isolar-se, sem magia alguma além da própria, ao seu redor — sem itens mágicos, sem feitiços lançados por outras pessoas, sem intrusão de forças sobrenaturais. Rodeado pela sua magia, ele permite seu Padrão ser preenchido por ela. Alguns magos suplementam esse passo com a ingestão de poções, frequentemente aditivadas com sua própria carne e sangue, por meio da internalização e da concentração de energias mágicas que elas carregam.

Outros magos se focam na meditação, privação sensorial e outras técnicas mentais para afiar suas energias pessoais. Por um ano e um dia o mago precisa aguardar na solidão, sem nenhum outro feitiço mágico ou criatura perturbando sua concentração, conforme ele prossegue unicamente com sua própria vontade mágica. A maioria dos magos nesse ponto são tão obcecados com seu desenvolvimento mágico que eles gastam esse tempo para promover o refino de suas técnicas. Enclausurado e abastecido pelo seu próprio espírito, o mago finalmente segue ao próximo nível do prumo da mortalidade — ele precisa beber uma poção especializada, no qual requer componentes retirados de Antevos e materiais notórios por sua longevidade e poder (sangue de dragão, serosidade de demônios, mercúrio, pó de túmulo e outros materiais sujos, raros e venenosos). Com a arma anteriormente criada, o mago se mata e se abstém do assento da vida — que pode ser cortando suas artérias, perfurando seus pontos de Chakra ou até mesmo apunhalando seu coração. O fluído da poção o sustenta e cessa a morte de seu corpo. Nesse estágio, caso o ritual do mago seja bem sucedido, ele se torna um corpo morto-vivo e fica suspenso entre a fronteira da vida e da morte. O ritual fixa seu Avatar e sua alma a estrutura de seu corpo, enquanto seu Padrão se altera para algo entre o da Vida e do da Matéria.

Claro, o ritual do Liche é tão perigoso que ele se ajusta a apenas os raros magos que são desesperados o bastante para tentá-lo. Pior ainda, não há meios concretos de um mago saber se essa fórmula é exata ou certa apenas no fato da morte pela tentativa. Dois Liches não usaram a mesma fórmula. É possível que alguns passos possam ter sido omitidos, embora é quase certo que muitos Liches tenham experimentado terríveis passos desnecessários simplesmente devido a não ter certeza do que a fórmula exige. Para alguém que deseje experimentar empreender nessa terrível transformação, praticamente qualquer sacrifício abominável parece razoável. Magos que carecem de perícia para usar algumas das magias exigidas buscam passos alternativos para tornar o ritual mais fácil. É dito que feiticeiros insanos, esperando tornar-se Liches, mataram suas famílias inteiras, sujeitaram-se a mutilações pessoais e sugaram almas de outros magos para abastecer suas transformações. Uma vez que o mago tenha pago o terrível preço e seguido as etapas, que não podem ser desfeitas, ele se torna um dos mortos-vivos. Seu corpo não mais se cura ou cresce e, ao invés disso, pode sofrer a ação do tempo, mas nunca morrer exceto por magia. Se o ritual não for executado de forma apropriada, o mago simplesmente morre. Se apenas parcialmente bem sucedido, o mago pode sobreviver por um curto período de tempo, mas se decompor e morrer em poucos dias ou semanas. Um Liche bem sucedido, exceto pelo Paradoxo em excesso e por ferimentos mágicos, pode esperar viver para sempre.

Uma vez que o mago torne-se um Liche, seu corpo pára de ser um padrão puro de Vida e torna-se algo além disso. Sustentado pela sua formidável vontade e proficiência mágica, o mago se afasta da morte, se colocando seu padrão num estado intermediário entre a Vida e a Matéria. Isso possui várias consequências:

  • Uma vez morto, o corpo do mago torna-se cadavérico, sombrio e suavemente azulado, como poderia se esperar de qualquer cadáver;

  • O Liche não pode se curar naturalmente. Apenas magia pode curar seus ferimentos;

  • Um Liche não pode ser morto por dano letal, apenas por ferimentos agravados — danos de Padrão — podem destruí-lo permanentemente;

  • O corpo do Liche continua a decair. Muitos Liches usam magias de Entropia para sustentá-los, mas passado o tempo eles se tornam despreocupados com tais trivialidades;

  • Visto que um Liche é dependente solenemente de sua própria magia para sustentá-lo, o ritual destrói suas conexões com quaisquer magias externas.

|Livro: Liche - Dead Magic|

23 visualizações
Nightfall Motoclub

PARCEIROS

Grupos IMVU
palestras.jpg
Sarau Animus
bottom of page